Histórias de tornozelos (cont.)

Nao foi fácil sair da sala do médico. Nao foi fácil sair da porta do hospital. Não porque eu estava com dor, mancando e andando mais devagar que tartaruga (o que, para pessoas timídas como eu, já é motivo suficiente para ficar mal). Senti-me, nao sei explicar, como que sozinho, sem saber o que fazer, com aqueles exames na minha mão...

Sabe esses momentos de total prostração, cansaço repentino, descrença absoluta no que vem pela frente, voz embargada, querendo... querendo... é, querendo chorar, sem ninguém te ver?... Impossível, cheio de gente ao meu redor, cheio de buzina, cheio de ruas, cheio de tudo... Tá, eu sei que podia ser pior, mas é difícil lidar com o que a gente sente. Era tudo muito novo, ainda nao compreendia corretamente minha situação. Nao sabia como proceder... Em linguagem comum: a ficha nao havia caído.

Entrei no carro. Senti todos os meus orgaos se abalarem com o banal barulho de fechar a porta... Ali dentro, com mais silencio externo, a gravação em minha mente da voz do médico dizendo fratura por estresse adquiriu estranho mecanismo de repetição em volume cada vez maior. Nao estava bem. Seria algo simples de lidar, difícil?. Minha única companhia naquele momento: minha garrafinha mineral.

Depois de dois longos goles, a realidade me chamava: fui até uma loja de produtos ortopédicos para comprar a bota. Meu coração começou a disparar quando vi o tamanho dela... Era duas, três, cinco, dez vezes maior do que eu tinha imaginado... Lembro o que já disse: sou uma pessoa muito tímida, e nem preciso dizer que a pior coisa para timidos é chamar a atenção... E ainda ter que pagar para usar isso? Jezzus...

Comprei e fui embora para casa... Experimentei... Fiquei olhando... Tentei um: é, pelo menos é preta, dá pra combinar com minhas calças (a maior parte preta e cinza). Nao adiantou. Em menos de um minuto me olhando no espelho, toda a minha cota-reserva de auto-psicologia expirou: Meu Deus, ela é horrível! Estou f....

Tirei a bota, fui tomar um banho para amenizar um pouco a dor (física e mental). Voltei pro quarto e lá estava ela, a robofoot, me olhando, sem piscar. Parecia rir de mim. Aquele riso macabro, gótico, grotesco. Nao quis colocá-la. Opção 1: ficar na cama. Opção 2: nao tinha!!!

Dormi. Mais de cansaço, de esgotamento, do que de sono...

Acordei hoje!. O médico havia dito que eu podia continuar indo para a Academia, fazer musculação nos membros superiores (faço musculação há 10 meses). Quem disse que tive coragem? Ter que transitar naquela sala de aparelhos, mancando e com uma bota desse tamanho (meu tamanho é G, calço 42, para minha infelicidade).

Hoje, após o almoço, deitado na cama, sem a bota, resolvi, num verdadeiro ataque de aborrecimento, pesquisar no google algo como blog, tornozelo, robofoot. Foi aí que encontrei o seu blog. Gostei pra caramba dele, do seu jeito pessoal de escrever. Li ele todo em poucos minutos, como se tivesse lendo um bom conto com traços de crônica. Aliás, até me emocionei, cara! É bom saber que bem perto da gente (na distância de um click) tem alguém que passou ou está passando por um problema semelhante, alguém que quer compartihar dificuldades, acertos e desacertos, visando melhorar a vivência de uma ocorrência traumática (ortopédico e traumatologicamente falando). Embora o seu caso nao tenha sido fratura, me identifiquei muito com seus pensamentos, com seu jeito de lidar com a situação (mais grave que a minha, reconheço).

Espero conseguir ter essa paciência e força que vc demonstrou ter (exceto às segundas-feiras rsrsrs). Estou apenas no meu primeiro dia de luta e, deixe-me dizer, nao estou gostando de nada disso...

Gostaria de falar mais, tirar algumas dúvidas práticas com vc...mas como nao tenho certeza de que vc receberá esse e-mail, e por ele já estar muuito longo, fico por aqui.

Estou de férias até o dia 22-10. Ter que voltar ao trabalho usando essa bota também vai ser outro desafio...

Agora, vou colocar minha bota e comer alguma coisa de café da tarde...

Mais uma vez, obrigado pela criação do blog, pela maneira sincera, humana, natural e divertida em escrever sobre sua experiência.

Espero poder continuar em contato com vc.

Um abraço mineiro,

Eric.


Eric Teixeira Silva
ericteixeiras@yahoo.com.br

Comentários

  1. Ontem completei uma semana de uso da bota ortopédica... Já voltei à Academia e a dor na região do tornozelo diminuiu consideravalmente. É... no início a bota parece MUITO estranha, vc acha que não vai se acostumar. Na verdade, não se acostuma mesmo não (:-}), mas se adapta... e aprende, aos poucos, a fingir que a bota não existe, continuando sua rotina diária... Vamo q vamo...,né? e que esse mês passe bem rápido!

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